quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bielo-Rússia 1, poema de Valzhyna Mort, poetisa da Bielo-Rússia (1981)

Até mesmo nossas mães não têm idéia de como nascemos
como nós separamos as pernas e nos arrastamos para fora no mundo
é como rastrear no escuro
As ruínas após o atentado.
Não podíamos dizer qual de nós era uma menina ou um menino.
Perdemos a noção de sexo
Identidade e quase tudo.
Assamos a sujeira e o lixo pensando que era o pão
e o nosso futuro
se transformou em uma ginasta em uma linha fina do horizonte
equilibrando-se no vazio
ou sobre o dorso de uma cadela faminta e ferida.

Nós crescemos em um país
no qual a sua primeira porta foi traçada a giz,
em seguida,
um carro escuro chegou
e ninguém viu mais nada.
Naqueles carros não andavam
nem homens armados
nem um andarilho com uma foice.
É como alguém que nos visita prometendo amor
e nos arrebata veladamente de nossa casa
para obscuro destino.

Nós nos sentimos completamente livres
apenas em banheiros públicos
onde ninguém se importava com o que estávamos fazendo.
Lutamos contra o calor do verão e a neve do inverno
quando descobrimos que nós mesmos
éramos corpos em forma de língua
e nossas línguas haviam sido removidas.
Começamos a conversar com
nossos olhos.
Quando nossos olhos foram arrancados de nossos órbitas
nós passamos a conversar com as nossas mãos.
Quando as nossas mãos foram cortadas
conversamos com os nossos dedos na mão arrancada.
Quando fomos baleados nas pernas
a cabeça balançava para dizer sim
e dizer não.
Quando arrancaram as nossas cabeças,
Fomos arrastados de novo para o ventre de nossas mães
Para dormir
Como em abrigos antibombas.
Lá dentro protegidos
Fomos nascendo de novo
Enquanto a ginasta do nosso futuro
Pulava através do arco ardente do sol
Equilibrando-se
E fazendo piruetas
Sem temer o perigo.

Tradução do bielo-russo pela autora com Franz Wright e Oehlkers Elizabeth Wright

Tradução muito livre do inglês para o português por Jaime Leitão.

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