terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sábados, poema da poetisa búlgara Petya Doubarova (1962-1979)

Aos sábados, eu me torno selvagem,
flexível fera
sem controle
e viva como um lince.

O cansaço da semana
não passa de um capricho
esvazia-se como uma ferida que sarou
sem curativo.

A escola se recolhe em minha mente
e fico a milhões de milhas
de lições
tarefas
registros
e quadros.

Cem mil rios correm para mim,
com dezenas de matizes, tons,
as visões do arco-íris
invadem os meus olhos e a minha alma
e me impregno do ritmo das mulheres ciganas.

Estou extremamente forte.
Torno-me uma videira na Primavera.

Eu me transformo na minha guitarra
em uma lágrima ou um segundo
que é um tempo diminuto e infinito.

Eu não quero fazer perguntas,
só ouvir o som da minha guitarra.

Aos sábados, eu me torno selvagem,
flexível fera
sem controle
e viva como um lince.

Todas as feridas , queixas,
caprichos e cansaço
cicatrizam.

Perco a dimensão de quem sou.

Mas quando coloco o uniforme
na segunda-feira
formal negro
aquela túnica de sempre
me transformo na menina boa de antes
e os olhos do lince miram
outras paisagens bem além daqui
como se para ele eu não mais existisse.

Tradução bem livre de Jaime Leitão

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