quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Começo do mundo, mitopoema ianomâmi

Choram os ianomâmi o choro do início.
O buraco é fundo profundo mais fundo do que o mundo.
Os homens e as mulheres estão dependurados em um cipó ambé-coroa.
Crianças dormem sem saber.
O céu desce
Em queda livre
Para o abismo do azul.
As árvores ainda não foram criadas.
O sangue dos ianomâmi virou um rio
Que se espallhou pelo não ser das coisas.

Alguns ianomâmi permanecem morando
sob a terra
sob o sob do tempo congelado.

Deitados baixo.
Deitados longe.

No ar e nos buracos do céu cheio de rachaduras.
Céu trincado.
Intrincado.

Os xamãs seguram o céu e o mundo
Tão ainda no começo
Só um esboço.

(Adaptação livre por Jaime Leitão)

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